sábado, 31 de março de 2012

VEREDAS TROPEIRAS DO BRASIL MERIDIONAL

Colegas, este é um rabisco quase perdido - de meu amigo Vitamina e meu - para uma especialização em História e Geografia do Paraná. Dei uma arrumadinha e aí está. Muito a aprender sobre nossa história! Boa pesquisa!


TROPAS: OITO VEREDAS TROPEIRAS DO BRASIL MERIDIONAL COLONIAL
Por Henrique Paulo Schmidlin (Vitamina)
e José Luiz de Carvalho


        Somente a partir de 1985 a historiografia brasileira reconheceu o tropeirismo como um importante ciclo econômico. O principal responsável pela integração do Brasil meridional, possibilitando a expansão territorial lusitana além dos limites tordesilhianos, garantidos pelo “utis possedetis”.

O movimento da condução de animais (tropas) no território sul-americano começou com os criadouros dos campos de Curitiba, logo estendidos aos Campos Gerais,  este no segundo planalto, no alvorecer de 1704. Após essa data tiveram início as tropeadas vindas do sul, desde as praias uruguaias até São Francisco do Sul; com a transposição da barreira da Serra do Mar, pelo Caminho dos Ambrósios, em direção aos Campos Gerais. E daí    esticando-se a Sorocaba, São Paulo. Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais veio a necessidade premente de muares, único animal adaptado a uma locomoção em terrenos acidentados - existentes em abundância nos campos argentinos e uruguaios.

A condução pelo chamado Caminho das Praias   mostrou-se onerosa, difícil e arriscada, tendo o Governo Central exigido a abertura de uma rota por terra. Coube ao tenente Francisco Souza e Farias, junto com Cristóvão Pereira, inaugurar em 1732 o caminho Araranguá-Campos Gerais. Foram gastos 2 anos de continuado labor para encontrar a melhor rota. E, especialmente, a travessia da floresta atlântica na Serra do Espigão, atual região de Papanduva.

Dois anos depois Cristóvão Pereira conseguiu encurtá-lo, partindo de Viamão (hoje um bairro de Porto Alegre) pelo imenso vale de Taquari, passando por Santo Antônio da Patrulha, São Francisco, Ausentes e Bom Jesus. Até cruzar com a trilha aberta por Souza Farias.

À medida que avançavam as ocupações territoriais pela presença dos tropeiros - muitos fixando-se à terra -  estimulou-se a alteração gradual dos Caminhos das Tropeadas e o surgimento de muitas aglomerações humanas, que vieram a se transformar em freguesias - que breve alcançaram o status de vila. Por razões de ordem geográfica todas as veredas tropeiras foram se desviando ligeiramente para o oeste.

O caminho Viamão-Sorocaba tinha no Passo Vitória o grande obstáculo natural na transposição do rio Pelotas.

Em 18l0, já com a existência de Vacarias, foi possibililitada a abertura do caminho para São Borja, passando pelos Matos Português, do Meio e Castelhano; impulsionando o comércio de animália com os criadouros do norte argentino e eliminando o Passo Vitória. Em 1768 a necessidade estratégica portuguesa - para se opor aos avanços castelhanos do oeste para leste no Paraná - acelerou as explorações e a ocupação brasileira até às margens do rio Paraná. Apesar de ter passado desapercebida a descoberta dos Campos de Guarapuava em 1753. Sendo somente adotada a antiga rota de 1.770. Porém, essa descoberta, atribuída ao sargento Cândido Xavier de Almeida e Silva, possibilitou a busca de outros caminhos, diretos aos criadouros platenses.

Em 18l6, o alferes Atanagildo Pinto Martins partindo de Guarapuava, contando com a ajuda do guia índio Jongeng, conseguiu em três meses de marcha exploratória passar pelos Campos Novos, encontrando uma nova passagem do Pelotas, no Passo do Pontão e cruzando a estrada de Vacarias-São Borja, na altura do Mato Português. Doravante, passou-se a utilizar esse novo traçado: São Borja - Guarapuava - Ponta Grossa. Este traçado, porém, não satisfazia os tropeiros em razão do forte desvio para leste e da grande presença de índios hostis, que Jongeng sabia existir.

 Por fim em 1.845 foi concluída a última etapa tropeira - ou oitava vereda - sob o comando do tenente Francisco Ferreira Rocha Loures, também de Guarapuava. Conduzido pelo índio Condá, encontraram o Passo de Goio-En e alcançaram os Campos de Nonoai, cruzando a estrada de Vacarias - São Borja. Foi a rota que perdurou, até os estertores finais da saga tropeira do Brasil meridional.




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O CAMINHO DO ITUPAVA


A história de um território, de uma região etc., sempre é contada através da perspectiva de sua ocupação. Para que ocorra a exploração e ocupação definitiva sempre foi necessária à utilização de picadas, caminhos, rotas fluviais e marítimas entre outras vias rústicas de comunicação.

No Paraná, estes exemplos também podem são aplicados. Portanto, a seguir vieram as estradas onde só passavam animais de carga e carroças, as ferrovias e as estradas pavimentadas com saibro, conchas encontradas nos inúmeros sambaquis na região litorânea, pedras irregulares, paralelepípedos e asfalto. Todas, indistintamente foram responsáveis para a formação deste estado.

Itupava, segundo Leão, é o "nome do antigo caminho ou pique, communicação entre o litoral e planalto curitybano. Também era conhecido por Estrada do Cubatão". Ele fez parte do rol de caminhos que ligavam mais do que o planalto curitibano, mas todo o território a oeste. Significa dizer, por exemplo, regiões além do rio Paraná até chegar aos atuais territórios andinos.

Caminhos como o Itupava foram utilizados intensivamente pelos europeus após a sua chegada em terras americanas a partir do século XV. Todos indistintamente são originários de trilhas antigas, pré-colombianas. Portanto, é imprescindível afirmar que a exploração e a conquista do território só foi possível através da orientação de indivíduos que detinham o conhecimento da região, os indígenas.

Por mais de dois séculos o Itupava se configurou como importante via de comunicação. Isso só se concretizou com a desobstrução de passagens e a pavimentação de trechos entre outros serviços de melhorias e manutenção ao longo dos anos.

O trajeto primevo (sentido planalto-litoral) iniciava atrás do atual Teatro Guaíra, onde passa o rio Belém. Depois seguia em direção aos atuais bairros do Bacacheri e Atuba. Dali seguia até as imediações da localidade de Borda do Campo, atual município de Quatro Barras, já bem próximo da Serra do Mar. Saint-Hilaire descreve que " ... Deste ponto em diante o terreno ia se tornando cada vez mais acidentado até atingir o Pão de Loth - morro que marcava o início da Serra do Mar. Do Pão de Loth ao fim da serra, o caminho era áspero e penoso aos viajantes, vadeando córregos turbulentos de água límpida, abeirando precipícios medonhos, onde o perigo era sempre iminente". Transpondo a serra o caminho seguia até a localidade de Porto de Cima (município de Morretes). Deste ponto em diante era possível seguir até Paranaguá.

Ainda hoje é possível realizar uma caminhada pelo Itupava. Este caminho se configura como um precioso patrimônio cultural e turístico brasileiro. Ao percorrê-lo vislumbram-se as belezas naturais da Floresta Atlântica assim como uma parcela significativa da História do Brasil.

Referências Bibliográficas.

LEÃO, Ermelino A. de. Diccionario do Paraná. Curitiba: Empresa Graphica Paranaense, 1928.
MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: FCC, 1995.
MOREIRA, Júlio E. Caminhos da Comarcas de Curitiba e Paranaguá; Curitiba: I.Oficial, 1985.
SAINT-HILAIRE, A. de. Viagem pela comarca de Curitiba. Curitiba: FCC, 1995.


Glossário.
. Sambaqui: Do tupi tamba'ki. Monte ou depósito de conchas construído pelo homem.
. Pré-colombianas: Antes da descoberta das américas.