quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

ASPECTOS HISTÓRICOS E URBANOS DE CIDADES PARANAENSES SURGIDAS A PARTIR DO TROPEIRISMO

Até o momento vários foram os estudiosos que desenvolveram pesquisas relacionadas aos aspectos históricos, sociais e urbanos das cidades surgidas com o tropeirismo. Contudo, os estudos já realizados se direcionam a uma pequena parcela da sociedade campeira paranaense dos séculos XVIII, XIX e parte do XX, privilegiando somente os grandes criadores e comerciantes de gado.

E quem mais fez parte desta história? Todos aqueles que direta ou indiretamente trabalharam para que o tropeirismo transforma-se, por um longo período, na economia mais importante da região sul.

Por isso, é necessário ter-mos a preocupação de resgatar e revelar uma história real e mais humana, onde os excluídos também possam surgir como seus personagens.

Na porção paranaense do Caminho das Tropas encontramos dez cidades, atualmente sedes de municípios, que se formaram no magnífico período do tropeirismo. No sentido sul/norte relacionamos: Rio Negro, Campo do Tenente, Lapa, Porto Amazonas, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengés.

Estas cidades nasceram da necessidade comum de se estabelecer, em toda a extensão do caminho, pontos onde os tropeiros pudessem se abrigar e comercializar alguns produtos no final de cada etapa de viagem.

O uso constante desses pontos transformou esses locais em pousos e, esses pousos em pequenos vilarejos onde fixaram um razoável número de pessoas, formando mais tarde, pequenas cidades. Esses núcleos populacionais somados com os do litoral constituem-se nos mais antigos do Estado do Paraná.

Hoje, dado a importância histórica, estas cidades servem como suportes para a memória de todos nós paranaenses, pois são referenciais da ocupação do nosso território. Dentro de uma visão, mais ampla, também podemos dizer que são monumentos nacionais, pois a somatória de seus edifícios, ruas e a sua população determinam a identidade histórica desses lugares fazendo o contraponto com outras cidades brasileiras.

As dez cidades paranaenses que nasceram em conseqüência da economia tropeira possuem características semelhantes; todas, porém, mantêm identidade própria.

Com relação ao aspecto urbano é importante ressaltar que o eixo de fixação e expansão destas cidades seguiu o traçado do antigo caminho das tropas, constituindo importante artéria viária. Essas ruas em cidades como Ponta Grossa, Lapa e Castro, por exemplos, mantêm duas denominações, quais sejam: a primeva, “Rua das Tropas”, como forma de preservar a história e outras que contemplam a contemporaneidade. Na Lapa a Avenida Manoel Pedro também é a Rua das Tropas

Por volta de 1820, Saint-Hilaire visitou algumas dessas cidades. Em suas observações e comentários retiramos o seguinte: ... Castro é composta de centenas de casas que se enfileiravam ao longo de três ruas compridas. A população era constituída por alguns comerciantes, prostitutas e alguns artesões. Dentre os últimos, os mais numerosos eram de seleiros, o que não é de admirar numa região onde os homens passam a maior parte do tempo em cima de um cavalo... os habitantes de terras vizinhas se dedicavam... à criação de bois e cavalos..

O engenheiro inglês Thomas Bigg-Witter, em suas andanças (1872-75) pela recém criada Província do Paraná, relata que Ponta Grossa e Palmeira “já tinham alcançado certa dignidade”, por já possuírem hotéis e outros tipos de comércio. Palmeira, nesta época, tinha mais de 3.000 habitantes e era considerada o centro de um círculo produtor, “possuindo gado e madeira em abundância”.

Estas duas narrativas testemunham que as tropas e o comércio envolvente transformaram a paisagem dos campos no Paraná. Também nos faz compreender que estas cidades não foram construídas somente de cal e pedra, nem tampouco de indivíduos ligados somente à aristocracia local ou ao clero entre outros segmentos, mas de toda a população. Por isso, a prática social foi um fator preponderante nesta diferenciação.

São vários os elementos com os quais podemos trabalhar esta questão, sendo um deles os ofícios de parte da população integrantes dessas vilas. Tomamos como exemplos as prostitutas, os seleiros e os pequenos produtores rurais. Cada qual com suas especificidades prestavam serviços àqueles que trabalhavam diretamente ou não com a lida tropeira.

São profissões características de cidades com um certo tom de vanguarda tanto econômico quanto social. Concomitantemente a estas atividades econômicas também existiam outras que supriam as necessidades básicas da população que crescia a cada ano.

Nos arredores de Castro que já contava com uma população de mais de 5.000 indivíduos, havia uma produção expressiva de arroz, feijão, milho e trigo com o qual se fazia um apreciável e saboroso pão branco (Saint-Hilaire, 75).

A evolução destas cidades e a distribuição urbana são características da ocupação definitiva dos Campos Gerais conseguida, principalmente, através da árdua atividade pastoril.

A lembrança desta história se manteve, principalmente, através na memória desses heróis brasileiros e seus descendentes, do patrimônio documental, arquitetônico e arqueológico deixados como legado para as gerações futuras.


Bibliografia Básica

Bigg-Witter, T. P. Novo caminho no Brasil meridional: a Província do Paraná, três anos de vida em suas florestas e campos -1872-1875. Rio de Janeiro: José Olympio/UFPR, 1974

Saint-Hilaire, A. Viagem a Curitiba e Província de Santa Catarina. São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1978.

Trindade, J. B. Tropeiros. São Paulo: Editoração Publicações e Comunicações, 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário