quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PARANÁ: TERRA DA ERVA-MATE

Parque Histórico do Mate em Campo Largo - Foto: JLC
A erva-mate leva o nome científico de Ilex paraguaiensis. Os Kaingang denominam-na de Kógûnh. Os Guarani a chamam de Caa, e Caapi é o chimarrão preparado por eles para ser servido entre os convivas. Têm-se relatos de que também era utilizada pelo povo Quíchua, nos Andes. Mas foi dos nossos índios, habitantes originais da terra, que herdamos o gosto pelo chimarrão, ou mate. O nome científico foi dado pelo cientista e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, que em viagem pela província do Paraná, no ano de 1820, interessou-se pela planta e a catalogou: chegou a dar-lhe dois nomes científicos; o que vingou para a história e um segundo nome, bem brasileiro e paranaense, Ilex curytibensis. Quase que a erva-mate, nativa da região meridional da América do Sul, se tornou cientificamente paranaense e curitibana.
Nos primeiros tempos da conquista do Paraná foram os espanhóis os primeiros a estabelecerem o comércio da erva-mate. Nas reduções jesuíticas da Província Del Guairá os índios guaranis, sob o comando dos jesuítas, trabalhavam na coleta e produção do mate que era comercializado nas cidades espanholas de então e em toda a província. Essa atividade perdurou até meados de 1632, época em que os bandeirantes paulistas já haviam iniciado a invasão e a destruição do Paraná espanhol. Nos séculos XVIII e XIX os tropeiros, que levavam o gado bovino e muares vindos dos campos do sul para serem comercializados em Sorocaba, São Paulo, ajudaram a difundir o hábito do chimarrão por quase toda a região sul do Brasil e os Campos Gerais do Paraná.
Mas o fato é que a erva-mate se tornaria, nos séculos XIX e início do XX, um dos principais produtos da economia do Paraná. Estima-se que após a emancipação da Província do Paraná, em 1853, até a década de 1930, ela representava em torno de 80% da economia paranaense. Por essa época o Estado contava com quase uma centena de engenhos para o beneficiamento de erva. Apesar dos primeiros engenhos terem sido construídos no litoral, a erva-mate, produzida nos engenhos do planalto, prosperou e passou a ser levada em lombo de muares para o porto de Antonina e à Alfândega de Paranaguá (futuro Porto D. Pedro II, ou Porto de Paranaguá). O Paraná então exportava principalmente para o Uruguai e a Argentina. Mais tarde passou a ser conduzida pelos carroções, introduzidos pelos imigrantes europeus.
Com a inauguração da navegação a vapor pelo Rio Iguaçu, em 1882, e da ferrovia Curitiba-Paranaguá, em 1885, estes passaram a ser os grandes meios de transporte da erva-mate para o comércio interno e a exportação. No final do século XIX o comércio era tão intenso que foi construído, por exemplo, um ramal ferroviário de Guaíra a Porto Mendes para transpor os Saltos das Sete Quedas, pois a Companhia Matte Laranjeiras, detentora de áreas de produção no Mato Grosso do Sul, transportava a produção pelo rio Paraná. Até o século XIX a erva-mate para exportação era acondicionada em Surrões (invólucro de couro que protegia o produto). A partir desta época passaram a ser utilizadas as Barricas de madeira, que criaram toda uma geração de fabricantes. Isto motivou o surgimento de uma classe de trabalhadores especializados e organizados, como a Sociedade Barriqueiros do Ahú, por exemplo. Com a barrica apareceram os Rótulos, a marca impressa do fabricante. Todos esses elementos fazem parte do grande patrimônio legado pela indústria da erva-mate no Paraná; além dos velhos engenhos remanescentes que ainda encontramos no Estado. Alguns deles com todas as suas estruturas quase intactas, como os Carijos e Barbaquás.
Ainda hoje a erva-mate é parte importante da economia do Paraná, com o Estado sendo o maior produtor nacional. Atualmente, porém, não é somente produzida para o consumo como chimarrão, pois é comercializada sob a forma de chá, refrigerante, e até sorvete. Também está sendo utilizada, embora em pequena escala, na indústria química para a fabricação de cosméticos, tintas e resinas. O certo é que a erva-mate (a Caá, ou a Ilex Paraguaiensis) é parte importante da história, da economia e da cultura paranaense.
Primeira firma individual, criada em 1874, e registrada em 1893 em Curitiba.
Fundada pelo Barão do Serro Azul e dedicada à importação e exportação de erva-mate.
O barão foi um dos maiores empresários do mate à época.
Foto: Acervo José Luiz e Aimoré


2 comentários:

  1. Prezado José Luiz de Carvalho,

    Vocês não imaginam a emoção que senti ao ler estas linhas, das mais nobres e verdadeiras que tive o prazer de ler desde de que iniciei meus estudos sobre a História do Paranã em 1998. Se vocês me permitem, gostaria de enviar meu Trabalho de Conclusão de Curso em História pela PUCPR, turma 2012/2013. Sou extremamente grato, agradeço por mim e por todos os paranaenses que estão na luta para ressuscitar a História do Paranã Tradicional. Brindo com um chimarrão bem cevado!

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  2. B noite poderia entrar em contato comigo? Necessito de algumas informações históricas, Obg allcolections@gmail.com

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