sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

BANDEIRAS E BANDEIRANTES

As bandeiras eram organizadas por iniciativa de particulares, os bandeirantes e compostas hierarquicamente por um chefe branco ou mameluco que comandava os outros integrantes como religiosos, escravos e indígenas.

Os principais objetivos das bandeiras eram: - combater invasores estrangeiros, indígenas e escravos quilombolas; - desbravar os sertões e descobrir ouro e pedras preciosas; - aprisionar mão-de-obra indígena. O número de participantes podia variar entre algumas poucas dezenas e centenas de indivíduos.

A partir da segunda metade do século XVI, parte dos habitantes da capitânia de São Vicente passou a migrar do litoral para o interior, ultrapassando os limites da “Grande Muralha”, a Serra do Mar, em direção ao oeste. Separados do litoral por essa barreira natural e pela distância que se encontravam da metrópole portuguesa, os paulistas foram buscar recursos no sertão.

As bandeiras mais importantes percorreram os sertões nos séculos XVII e XVIII sem respeitarem os limites territoriais delimitados pelos tratados assinados entre os reinos de Portugal e Espanha. Partiam, principalmente, da vila de São Paulo de Piratininga, atual cidade de São Paulo e adentravam os sertões utilizando as vias fluviais disponíveis assim como de todos os tipos de trilhas.

Os chefes das bandeiras eram administradores rigorosos principalmente quanto à disciplina. Invariavelmente, todas as expedições de sucesso eram comandadas, com mão-de-ferro, por pessoas ligadas intimamente à família dos proprietários como filhos, sobrinhos e genros. Essa espécie de vínculo era uma prática imposta normalmente para evitar conflitos internos, a desagregação e a dispersão do grupo durante as expedições.

A Expressão bandeirante refere-se àquelas pessoas arrojadas e audaciosas que participavam de expedições pelo interior do Brasil com o objetivo de descobrir, conhecer e conquistar novas terras. Segundo Vainfas, a denominação “bandeirante” foi difundida somente no século XVIII. Antes, eram conhecidos como ”gente de São Paulo” e “paulistas”. Os padres jesuítas de origem espanhola os denominavam de “mamelucos”.

Para se mobilizarem para o interior, os bandeirantes utilizaram a extensa rede hidrográfica que, a partir dos rios da região leste do atual Estado de São Paulo, desciam suas correntezas até chegar ao rio Paraná, região oeste, alcançando, por extensão, toda bacia do rio do Prata e do rio São Francisco.

Com o auxílio do conhecimento do elemento indígena moviam-se por todas as regiões. Na verdade os bandeirantes se beneficiaram da cultura indígena, sobretudo para compreender a natureza e assim conquistar o território.

Os europeus foram, aos poucos, abandonando as suas tradições e costumes devido à necessidade de se adaptarem às condições específicas do ambiente como a mata densa, o clima tropical e a convivência direta com toda a variedade de animais e insetos.

Os bandeirantes sempre foram ajudados pelos povos indígenas e foi somente deste modo que conseguiram ultrapassar os limites territoriais delimitados legalmente pelo Tratado de Tordesilhas.

A História revela duas faces dos bandeirantes. Em uma delas são exaltados como heróis desbravadores importantes para a formação, ocupação e conquista do território brasileiro durante o período colonial. Em outra, a partir de estudos realizados na documentação produzida pelos pares jesuítas, são indivíduos que se destacam pelo emprego da violência, destruição das missões religiosas e escravidão indiscriminada de indígenas. Mas, sem sombra de dúvidas o bandeirante é figura ímpar em nossa história. Através da análise dos seus inventários é possível afirmar que, na verdade eram modestos lavradores, pequenos mercadores e aventureiros rústicos. Dedicavam-se, impreterivelmente, à agricultura de subsistência e a à captura de índios pelo interior.

A Capitânia de São Vicente se tornou ao longo do tempo o principal pólo irradiador do bandeirantismo. Os engenhos desta capitania não conseguiam competir com a produção da região nordeste, que geograficamente mais próxima da Europa, controlavam o mercado. Por isso, o insucesso da produção de açúcar promoveu o deslocamento dos vicentinos para os campos de Piratininga, onde o clima, vegetação e as inúmeras aldeias indígenas viabilizaram os estabelecimentos agrícolas.

Este deslocamento foi responsável pela implantação de uma nova agricultura na região acima da serra. Ao contrário da prática da agricultura extensiva da cana-de-açúcar realizada na faixa litorânea, nesta região foi possível a criação de gado, o plantio de trigo, vinha, marmelo e algodão. Com o marmelo fabricavam e exportavam para vários lugares uma iguaria muito apreciada, a marmelada. Tudo isso colaborou para a rápida ocupação deste território.

Em determinado momento os bandeirantes se tornaram grandes produtores de trigo. A história da presença do trigo no Brasil teve início em 1534, quando as naus de Martim Afonso de Sousa trouxeram as primeiras sementes para serem plantadas nas terras da Capitânia de São Vicente. Portanto, é importante ressaltar o aspecto pioneiro deste ato. O Brasil foi o primeiro território das Américas a plantar, colher e comercializar trigo, mesmo antes das colônias espanholas, inglesas, francesas, holandesas entre outras. Para a implementação desta cultura os bandeirantes necessitavam de mão-de-obra, de preferência escrava e, aquela que estava mais próxima e à disposição era a indígena.

O embate contra os indígenas rendeu uma quantidade ideal de escravos que seriam destinados às propriedades paulistas. Os cativos não seriam, portanto, vendidos pelos paulistas para os senhores de engenho, mas empregados diretamente nas propriedades agrícolas do planalto. Agora, a economia gerada nessa atividade não pode, contudo, ser comparada com a economia açucareira destinada ao comércio exterior.

A exploração intensiva de mão-de-obra escrava indígena nas atividades agrícolas manteve-se até o início de 1640. Esta data marca o início da crise no abastecimento de escravos e, isto, levou à decadência do cultivo de trigo no planalto, incentivando a criação de gado e a procura de metais como forma alternativa de sobrevivência econômica.

A partir deste período ocorre o agravamento da crise entre paulistas e jesuítas pelo controle dos índios das missões e arredores. Acontece uma grande investida nesses locais onde se encontravam mão-de-obra pacificada e pronta para o trabalho. Embrenhando-se pelo território em busca de novas aldeias, distanciando-se cada vez mais do litoral. A volta das bandeiras para os locais de origem sempre era coroada com um número significativo de índios ou alguma porção de ouro e pedras preciosas. Calcula-se que 300.000 índios foram escravizados até o ano de 1641, quando o bandeirantismo de aprisionamento declinou e deu lugar às expedições em busca de minerais preciosos.

A bandeira comandada por Fernão Dias Paes, por exemplo, realizada no ano de 1674, tinha por objetivo a descoberta de pedras e metais preciosos. Ao final da expedição trouxe muitos escravos. Muitos integrantes de sua expedição não retornaram e fixaram-se nas Minas fundando os primeiros povoados deste território que começava demonstrar sua potencialidade mineradora.


Bandeirantes no Guairá

A busca incessante de índios para suprir a demanda de mão-de-obra para as plantações dos paulistas, chegou à região de Guairá, território espanhol delimitado pelo Tratado de Tordesilhas, onde se localizavam mais de uma dezena de missões jesuíticas e algumas cidades espanholas. Para aflição dos espanhóis algumas dessas missões se encontravam nas margens do rio Tibagi, muito próximas dos limites territoriais dos portugueses. Wachowicz afirma que “nada (era) mais atraente e compensador do que atacar as reduções onde se encontravam milhares de índios já aldeados e com certo conhecimento de algum ofício, o que melhoraria o preço de sua venda”.

Desde modo, coube ao bandeirante, além de prear índios para ser comercializado em São Paulo e outros lugares do Brasil colonial, deter o possível avanço espanhol via a implantação de reduções, vilas e cidades cada vez mais a leste do território guairenho.

Em todo território do Guairá existiam, até os conflitos finais, 13 missões organizadas pelos jesuítas e reconhecidas pelos espanhóis. Onze delas foram destruídas pela ação dos bandeirantes. Diante de tal situação duas sobreviveram às investidas dos paulistas. Por iniciativa dos missionários, incentivados pelos seus superiores, cerca de 12.000 índios que se encontravam nas missões de Loreto e Santo Inácio Mini abandonaram a região em direção ao sul e se fixaram no atual território do Estado do Rio Grande do Sul, fronteira com a República Argentina.


Bandeiras Curitibanas por Ermelino Agostinho de Leão

“No século XVII e princípios do século XVIII, as duas profissões que maiores resultados proporcionavam aos curitybanos eram as de bandeirantes e de mineiros.

Os curytibanos dessa epocha viviam em continuas bandeiras, como consta de numerosos inventários, nos quaes é frequente a menção das entradas ao sertão para o escravisamento de indios e descoberta de minas.

Este modo de vida foi seguido até os começos do seculo passado pois as expedições conquistadoras dos campos de Palmas, Curitybanos e S. João foram verdadeiras bandeiras.

Muitas dessas bandeiras merecem referencia especial como as que D. Rodrigo de Castello Branco levantou em Curityba a 13 de Agosto de 1679,levando a primeira como chefe o capitão-mór Agostinho de Figueiredo e a Segunda o P. Antonio de Alvarenga, segundo pensamos.

Fóra dessas expedicções de caracter official eram frequentes as entradas ao sertão promovidas e custeadas por particulares. Uma das mais importantes, pelas consequencias que teve, havendo contribuido para a victoria do litigio das Missões, conquistada pelo grande Barão do Rio Branco, foi chefiada pelo curitybano Zacharias Dias Cortes, que descobriu os campos de Palmas durante o governo de Rodrigo Cezar de Menezes, mineirando no Areal Grande do Inhanguera (rio que foi do diabo) que se “se vai afocinhar no Uruguay”, O governador Rodrigo Cezar logo que teve sciencia dessa bandeira, ordenou aos bandeirantes curitybanos que escrevessem o diário e o roteiro da jornada e determinou que o provedor das minas de Paranaguá cobrasse os quintos d’ouro d’el-rei dos mesmos sertanistas. Esses documentos prestaram valioso auxilio ao Barão do Rio Branco para provar a these do “uti-possidetis”, que pleiteava perante o arbitro Cleveland.

A descoberta dos campos de Palmas provocou outras bandeiras: o italiano Fidel Franco Belloto justificou que havia feito uma entrada ao sertão do rio Grande partindo dos mattos de Botiatuba com o Cap. Gabriel Alves de Araujo, e Antonio Carrasco dos Reis, voltando tempo depois em virtude de desavenças entre os camaradas de Gabriel Alves e tambem pela aridez do terreno, que não permitiu o plantio de roças. Fidel dizia ter descoberto um ribeiro de ouro e que os curitybanos eram pobres por não ter deligencia de descobrir as riquezas que havia na terra. (...)”


Glossário

Capelão – padre encarregado de dizer missa em capela; Padre encarregado da assistência espiritual a regimentos militares, escolas, hospitais, irmandades

Cleveland – Stephen Grover Cleveland. Foi presidente dos Estados Unidos da América. Ele arbitrou “A Questão de Palmas”, uma disputa territorial contenciosa entre a Argentina e o Brasil, em favor do governo brasileiro.

Jesuítas – membro da Companhia de Jesus, ordem religiosa, fundada por Inácio de Loyola.

Mamelucos – filho de índio com branco.

Naus – antigo navio redondo, tanto na forma do casco quanto no velame.

Piratininga – Piratininga, segundo Silveira Bueno, é vocábulo indígena que significa "peixe seco". Do tupi pira: peixe; e tininga: seco. O topônimo teria referência aos peixes que morriam à margem do rio Anhangabaú, depois que este transbordava pelas cheias, e findavam por secar expostos ao Sol.

Prear – tornar cativo ou prisioneiro; prender, aprisionar.

Redução – denominação atribuída a antigo aldeamento indígena organizado e administrado por jesuítas no Novo Mundo.

Vicentinos – os naturais ou habitantes de São Vicente.


Referências Bibliográficas

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FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

HOLANDA, S. B. de. (Org.) História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.

HOLANDA, S. B. de. Caminhos e fronteiras (1957). 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

LEÃO, Ermelino Agostinho de. Contribuições historicas e geographicas para o diccionario do Paraná. Curitiba: Emp. Graphica Paranaense, 1926. p. 162-163.

MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: Guaíra.

MONTEIRO, J. Negros da terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

REZENDE, Claudio J., TRICHES, Rita I. (Org.) Paraná espaço e memória: diversos olhares histórico-geográficos. Curitiba: Bagozzi, 2005.

VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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http://www.brasilescola.com/historiab/entradas-bandeiras.htm -11/05/2009 - 16:37

http://www.cnpt.embrapa.br/aunidade/trigo_brasil.htm - 29/04/2009 - 11:20

apostilas.netsaber.com.br/apostilas/760.doc - 07/05/2009 / 17:15

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